OS SEGREDOS DA BORRACHINHA


E eis que senão quando nos deparamos com uma das mais claras expressões da roda: o pneu! Seja de automóvel, moto, bicicleta ou mesmo no pequeno triciclo (excepto os que os têm em plástico) este exemplar único da locomoção atravessa-se todos dias no nosso caminho, sejamos simples peões ou estejamos numa dessas viaturas. 

Um anel de borracha que surgiu há 167 anos, como ideia inédita do escocês Robert William Thomson, feita a partir da seiva extraída da árvore-da-borracha. Inicialmente colocada em carruagens puxadas a cavalos, já a primeira utilização prática surgiria 40 anos depois, quando o irlandês John Boyd Dunlop (que mais tarde daria origem à marca de pneus Dunlop) dotou as rodas da bicicleta do filho com uns tubos em borracha cheios de ar, minimizando as dores de cabeça com que o miúdo ficava, a andar com a dita nas irregulares estradas e caminhos da altura. 

A partir daí foi um ‘saltinho’ até ao maravilhoso anel preto cheio de ar que hoje conhecemos e que maior parte só nos lembramos de ver quando temos um furo, associando-lhe uma série de impropérios semelhantes aos usados aquando de um jogo de futebol, quando até parecemos conhecer a família de alguns jogadores e árbitros, tal é a familiaridade com que se lhes dirigimos! 

Voltando ao pneu, este está substancialmente mais evoluído do que em 1847 e é hoje utilizado na maioria dos veículos terrestres (à excepção dos que se deslocam sobre carris) e mesmo em alguns aéreos, no seu contacto com o solo. Só para se ter uma ideia, actualmente, a produção anual de pneus ronda os 1.000 milhões de unidades, em quase 500 fábricas. 

Ok… mas será que já olhou com atenção para os ‘seus’ pneus? Ah… pois é… para além desse anel que faz o contacto com o solo e aumenta as qualidades dinâmicas, de conforto e até de segurança das viaturas, eles contam com inúmeras informações gravadas na borracha, desde a data de fabrico até às características que os dão como indicados para esta ou aquela utilização.




No exemplo maior acima, de um pneu para automóvel, surge a referência “195 / 55 R 16 87V”, mas que pode ser colocado em viaturas com determinadas características. Mas essa combinação de letras e números poderia ser outra, dependendo das medidas e capacidades do dito pneu, destinando-se a outro tipo de viaturas (ver as imagens mais pequenas, ao lado). 

Muito bem! Vamos lá então ‘esmifrar’ aquele código em particular: 
  • “195” é a largura do pneu, medida em milímetros de flanco a flanco; 
  • “55” significa que a altura equivale a 55% da largura desse pneu; 
  • A letra “R” diz que o pneu é radial, ou seja as lonas – camadas que constituem a estrutura – estão dispostas radialmente, de flanco a flanco. Mas também podia ser "B" (pneu de construção oblíqua, com lonas dispostas de modo oblíquo alternando a direcção), ou ainda ou "ZR" (para pneus de viaturas de elevadas performances); 
  • Já o “16” indica o diâmetro da roda, em polegadas. Mas há jantes de 14 a 20 ou mais polegadas nos automóveis, enquanto motos e bicicletas têm estas e outras medidas específicas, sendo que as normais se situam entre as 12 e as 26 polegadas. 
  • “87” é o chamado Índice de Carga deste pneu, ou seja, a carga máxima (medida em libras ou quilos de pressão) que um pneu pode transportar (excepto para cargas em velocidades acima de 210 km/h) numa velocidade indicada pelo Índice de Velocidade; 
  • “V” é o Índice de Velocidade do pneu acima, numa velocidade de serviço máxima de 240 km/h. Mas podiam ser outras letras, dependendo das velocidades a atingir. Se quiser saber mais sobre estes dois últimos códigos, veja as tabelas da última imagem deste texto. 
Há depois, na parede lateral do pneu, referências ao tipo e ao que se adequa, sendo que um “P” (ou sem letra) significa que se destina a um automóvel de passageiros, enquanto “LT” se destina à montagem num camião ligeiro e “M/C” a uma moto ou scooter (como o da imagem abaixo).




Há uma referência directa ao país de produção do pneu e outra numeral ao país onde o pneu está homologado, ou seja, autorizado a ser utilizado pelas entidades competentes, segundo uma tabela internacional. 

Pode ainda ler-se as expressões “tube” ou “tubeless”, dependendo se no interior do pneu existe uma câmara de ar, “reinforced” se tiver algum tipo de reforço, e “M” se se destinar a pisos de lama ou “S” para neve. Tem também uma indicação da direcção que o mesmo deve ser montado na jante, pois ele foi feito para andar exclusivamente numa única direcção, senão não serve de nada. 

Já “DOT” significa que o pneu está em conformidade com todas as normas de segurança aplicáveis pelo “Departament of Transports” dos EUA. Adjacente a esta indicação encontra-se a identificação do pneu ou número de série, uma combinação de números e letras até 12 dígitos, incluindo o código do fabricante e da fábrica que o produziu, a semana de fabricação de um determinado ano e a marca de aprovação da ECE. 

Finalmente “UTQG” é o acrónimo para “Uniform Tire Quality Grading” (Classificação de Uniformidade da Qualidade do Pneu), um sistema de classificação de qualidade desenvolvido pelo Departamento dos Transportes dos EUA (DOT).

Fotos: Dunlop, GoodYear, Michelin e outros
Ok… espero que ainda esteja por aí, se bem que alguns já tenham desistido deste texto e passado para outras interessantes áreas do blog Trendy Mind, como as dicas de decoração Trendy Deco da dupla Joana Frade/Nônô Costa, as sugestões gastronómicas da Paula Marques no seu Trendy Food ou as curiosidades de sexologia do Trendy Sex da autoria do Fernando Mesquita. 

Mas, para os que tiveram coragem e ficaram até ao fim e ainda tenha o bichinho da curiosidade, veja no vídeo abaixo como nascem essas borrachas que o levam a (quase) todo o lado. Pode também aceder às páginas de internet dos vários construtores nos links acima, onde encontrará um mundo de informações adicionais.







Já está? Agora dê um saltinho até lá fora e veja se encontra todos estes dados no pneu do seu carro, moto ou bicicleta. Ou então entretenha-se a fazê-lo se, eventualmente, tiver um furo, enquanto muda o pneu ou espera a chegada do reboque. Afinal, há tanta gente que, de quando em vez se vê a braços com a mudança da (ben/mal)dita da roda! Ah… e não lhe chame nomes… afinal ele não tem vida própria e foi você quem passou por cima do destroço ou caiu no buraco! 

Cumprimentos distribuídos irmãmente e até breve! 

José Pinheiro 

Notas: 1) As opiniões acima expressas são minhas, decorrentes da experiência no sector e de pesquisa de várias fontes. Os restantes membros deste ‘blog’ não têm obrigatoriedade de partilhar dos mesmos pontos de vista; 2) Direitos reservados das entidades respectivas aos ‘links’ e imagens utilizados neste texto, conforme expresso.

Sem comentários: