Bandas Neuromusculares: Afinal o que são aquelas ligaduras coloridas?


Regra geral, cada vez que nos lesionamos, seja a praticar desporto ou no decorrer do nosso dia-a-dia, das primeiras dúvidas que surgem são o tempo que demorará até voltarmos aos 100% ou então, até podermos voltar a praticar o nosso desporto ou retomar as nossas vidas com o mínimo de limitações possível.



Com qualquer lesão (digna desse nome), não é do dia para a noite que esta se corrige, mas é possível tentar conduzir o processo reparativo o mais correctamente possível, de modo a que não se prolongue. Basicamente, não é possível acelerar a reparação de nenhuma lesão – as células demoram o tempo que a nossa biologia lhes dita que têm de demorar – mas podemos garantir que não demora mais do que o estritamente necessário a reparar. E para que isto seja possível, existem determinados recursos que devem ser utilizados, nos quais se incluem as ligaduras de que falo aqui.

Há mais de 30 anos que foram criadas, apesar de só recentemente se verificar a difusão e massificação do método, e com grande apelo do público. De tal modo que as cadeias de supermercados e de artigos desportivos começaram a vender cópias do produto, inclusivamente já cortadas e prontas para a própria pessoa o aplicar. Erradamente como iremos ver; uma ligadura não é um penso rápido.

E como funcionam estas ligaduras?

São bandas de tecido, elásticas, adesivas e resistentes à água e transpiração. E é na elasticidade que possuem que está o truque, porque procura mimetizar a da pele humana (apesar de já se começar a ver aplicações veterinárias, nomeadamente em cavalos).



É também possível produzir um efeito mecânico ou seja, oferecer uma resistência ou facilitar o movimento de determinada articulação, mediante a tensão que se coloca durante a aplicação da fita, ainda que em pequena escala, e é algo controverso e mal sustentado cientificamente.

Por fim, numa espécie de misto entre estes dois efeitos, há também um efeito sobre o sistema linfático, grosso modo os “esgotos” do nosso corpo. Quando aplicadas sobre uma região com sangramento (subcutâneo) decorrente de uma rotura muscular ou de um traumatismo, as áreas por baixo das bandas que forem aplicadas, costumam apresentar sempre uma ausência ou diminuição desse sangramento.

Em que problemas são mais utilizadas?

Há um grande leque de situações e é complicado mencionar condições concretas, porque não se pretende tratar determinado problema mas sim, intervir sobre um determinado sintoma ou sinal desse problema. De qualquer forma é frequente verem-se aplicadas em roturas musculares de uma forma geral, em epicondilites, em dor lombar de várias origens, em problemas de joelho como a tendinopatia rotuliana ou síndrome de banda ilio-tibial, e em fascítes plantares.

A nossa pele possui uma grande diversidade de receptores ao nível da pele, e também mais profundos, com as mais diversas funções e ligações ao Sistema Nervoso Central – por questões de simplificação não os vou diferenciar. Quando colada, esta banda vai traccionar e portanto, estimular, estes receptores, provocando um determinado efeito sobre o que estiver por baixo, seja pele, fascía ou músculo. Com isto pretende-se aumentar a estimulação ou inibir um determinado musculo ou grupo muscular. Produz-se assim, um efeito neurofisiológico.


Mas afinal porque não posso aplicar a ligadura sozinho?

Na verdade, se o leitor for um profissional de saúde e formado nesta técnica, pode. Mas a maior parte não o será. Portanto, para começar são necessários conhecimentos anatómicos e de anatomia palpatória que não se adquirem com o “Doutor Google”. Ponto.

Quando se coloca uma ligadura, por exemplo, num ombro, pretende-se que esta se sobreponha em determinadas estruturas, cuja forma e localização difere de qualquer outro ombro (incluindo numa mesma pessoa), e que esta inicie e acabe em determinado sitio, e/ou que se esquive de determinada zona até.


Depois, a ligadura a aplicar é sempre criada no momento, e a sua forma e tamanho tem em conta o efeito a produzir, o tamanho do local do corpo a cobrir ou outras contingências. Por alguma razão, as verdadeiras ligaduras vêm em rolos contínuos. Uma ligadura comprada já com uma determinada forma e tamanho não tem em conta nenhum destes critérios.
Tão ou mais importante que isto, é a forma de aplicação. Estas ligaduras podem ser aplicadas sem tensão, com determinada tensão igual em toda a banda, ou com tensão variável em determinados sítios da banda. Podem ser aplicadas com a(s) articulação(ões) por onde passa em determinada posição ou necessitar do seu movimento enquanto se cola. Podem ser coladas de cima para baixa , da esquerda para a direita ou vice-versa, por exemplo.
Em suma, a utilização desta técnica depende de um conhecimento anatómico prévio, e dos efeitos da própria ligadura mediante a forma como é aplicada. A partir daí é possível extrapolar para o objectivo que se quer atingir, e criar uma ligadura específica para um problema específico, numa pessoa específica.


A mensagem final que quero deixar, é que nisto, “o barato sai caro”. Comprar ligaduras que nada fazem é deitar dinheiro ao lixo. Até porque pode nem precisar delas. E se precisar, está a prolongar um problema que possivelmente, já estaria resolvido se tivesse recorrido a um profissional de saúde.

Sem comentários: